sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

    
                                     A cantiga de amor 

- O lirismo provençal foi certamente conhecido na Península Ibérica bastante cedo.

-Poesia autóctone e poesia de imitação provençal são, pois, simultaneamente cultivadas nas cortes da península e mutuamente se influenciam.

-Na entanto, algo as distingue e as torna inconfundíveis:
nas cantigas de amor é o homem que se dirige à amada ( "senhor" ) a confessar os seus sentimentos; pelo contrario, nas cantigas de amigo, é uma rapariga que, enamorada e saudosa, recorda o amigo (namorado) ausente, tornando como confidente a mãe, as amigas e a Natureza.

- A nossa cantiga de amor exprime a "coita" ou "cuita", paixão infeliz, amor não correspondido que se torna obsessão, repetida em tom de queixa ou de suplica.


                          A arte de amar dos trovadores 

-Ao contrario da cantiga de amigo, o cantar de amor não sugere ambientes físicos, determinados por referencias ao mundo exterior, ou sociais, resultantes da presença de personagens interessadas no enredo amoroso, não se refere à mãe, ao santo da romaria, às ondas do mar ou as árvores em flor.

-Nas cantigas de amor só existe a voz que conta na solidão, uma suplica do apaixonado para que a "senhor" reconheça e premeie o seu "serviço", ou um elogiar abstracto da beleza dela, uma descrição dos tormentos.

-O servidor está para com a amada como o vassalo para com o suserano.

-Nas cantigas de amor e do seu modelo provençal é a distancia a que o amante se coloca em relação à sua amada, a que chama senhor, tornando-a um objecto quase inacessível.

-O amar trovadoresco e cavaleiresco é por ideal, secreto, clandestino e impossível.

-O amar e morte aparecem conetantemente associados nos cancioneiros.


                        O código do amor cortês 

- O trovador serve a sua dona como o vassalo serve o suserano, com diligencia e fidelidade.

-Para se alcançar o favor supremo da dona, era necessário percorrer quatro estádios: o do aspirante que se consome em suspiros (fenhedo), o do suplicante, que ousa já pedir (predador), o do namorado ( entededor ) e o do amante (drut)

- O amor português ganha em emoção e sinceridade.

- O amor não podia falar uma linguagem desordenada, impetuosa ; tinha de conter-se em certos  limites de razoável moderação ( mesura).

- A mesura é a virtude suprema do amador.

- O receio de que a amada sofra no seu prez, o desejo, enfim, de servir pelo prazer e não pela mira do galardão.

- Além desta atitude submissa e tremente, outra obrigação tinha ainda o perfeito amador: a mais absoluta discrição que lhe vedava, sobretudo, divulgar o nome da amada.

- Enfim, o rasgo mais característico do amor português é o coita de amor, que se faz enlouquecer e morrer o pobre namorado. Era, o fim de uma vida votada a um amor infeliz, não compartilhado, morrer nas cantigas.

            
                   Variedade das cantigas de amor 

- a) Canções de mestria ( perfeitas obras de mestres).
    1.Dobre:consiste na repetição da mesma palavra em lugares simétricos da estrofe.
                              Ex: "Nostro senhor, e ora que será
                                      de mim que moiro, porque me parti
                                      de mia senhor mui fermosa que vê
                                       pelo meu mal ? E de mi que será"

     2.Mozdobre: como a dobre, é a repetição da mesma palavra em sítio simétrico da estrofe, jogando, porém, com as suas flexões.
                               Ex: " Se eu pudesse desamar
                                        a quem sempre desamou
                                        e podeses`algun bem buscar
                                        a quem me sempre mal buscou!"

     3. Atafinda: é uma espécie de encavalgamento entre os versos ou estrofes.Consiste na ligação do período ou da oração que terminam no meio do verso ou da estrofes seguintes.
                               Ex: "Quantos oj`andam essa maraqui
                                       cuidam que coita no mundo non, á
                                       se non do mar, nem an outro mal já
                                       mais doutra quisa acontece oj`a mi
                                       coita d`amor me faz escrever
                                       a mui gran coita de quantas son
                                       pola maior coita de quantas son
                                       coita d`amor a quem na Deus quer dar"
      
      4.Finda: é uma espécie de conclusão tem dois ou três versos, que  resume a cantiga.
     
      5.Verso perdudo: é um verso introduzido no meio da estrofe, sem correspondência rimática.
           b) tenções: são diálogos entre dois trovadores, nos quais um procura contrariar o outro.
           c) desacordos: eram composições multilingues dos quais se exprimiam os conflitos de amor.
           d)Prontos:são lamentações pela morte de alguém ou então desabafos plagentes de coitas de amor.
           e)Cantigas de refrão: são canções de amor onde aparece o refrão, típico das cantigas de amor.

                     Cantigas de amor: os temas 
         
- O tema ou motivo dominante das poesias trovadorescas de influência provençal é sempre o amor. No entanto, podemos descobrir uma certa variedade no tratamento das relações entre o trovador e a "senhor". Assim:

1-Vemo-lo idealizar a dona e exaltá-la como espelho de todas virtudes morais e cartazes de todas as bondades, e o amor- adopção ao amor sensual,

2-Encontramo-lo a jurar a fidelidade à dona ainda que esta lhe não corresponda, impregnada de masoquismo, pois chega a deleitar-se nesse amor infeliz ( amar-vassalagem ),

3-Por vezes damos com o trovador humilhado, cheio de timidez e mesura, a mendigar à dona a favor de o amar, para não morrer de amor,

4-Também o surpreendemos esmagado ora pela saudade devido ao afastamento da dona, de quem frequentemente se despede com lágrimas,

5- Ouvimo-lo mesmo a expor os efeitos contraditórios do amor e não é raro deparamos com ele a lastimar o fatalismo do encontro com a dona, a quem, sem querer se sentiu preso,

6- Notamos que uma indizível coita de amor o desgasta e que, às vezes, essa "coita" cresce tanto que a leva a morrer de amor.


              Estética das cantigas de amor. Aspectos gerais 

-Na verdade, pouca variedade encontramos nos seus temas e respectiva expressão, até porque muitas situações, sentimentos e dizeres que nelas se reflectem, são ditados pela moda, pela escola literária e não originados pela vida real. É difícil convencemo-nos, por exemplo, de que quase todas as mulheres voltassem as costas aos que amavam, e também de que estes, ofendidos no seu brio, no seu amar próprio, passassem a vida a chorar e sofrer e desejar a morte, sem tomarem outras atitudes. Bernardim Ribeiro, mais tarde, iria encorar o amor nesta maneira e os românticos explorarão com um prazer idêntico este idealismo. Tudo isto, porém, denotam um desajustamento da realidade.
Apesar dos aspectos mencionados, podemos considerar os trovadores portugueses pioneiros em alguns aspectos estéticos:

1- Fazem uma analise bastante profunda do coração que ama.

2-Ao mencionar as qualidades da dona, seguem os modelos provençais, o bem falar e rir, o bom senso, o bem parecer. Vê-se facilmente que estas características são próprias de gente da corte. Os retratos são vagos e convencionais e é flagrante a insistência nas qualidades morais da mulher.

3- Exploram com frequência o simbolismo da luz. São muitas as poesias em que a dona é chamada "o lume dos olhos do trovar ".  

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