quarta-feira, 7 de junho de 2017



Personagens da obra e caracterização:
Personagens e seu valor
Sr.Milhões: Homem consciente da realidade e da condição humana

Governador Civil: Homem inconsciente e preocupado com o estatuto social e o talento

Mulher: Demonstra a emancipação da mulher
Dimensão crítica e simbólica
Dimensão Crítica:
-Crítica Social
-Crítica Literária

Dimensão Simbólica:
Governador Civil ≠ Sr.Milhões

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 O Doido e a Morte é uma obra-prima do nosso teatro e do teatro da literatura pelo problema existencial,pela conceção e pelo clima tenso de lirismo.
 Sofre então um confronto com Strindberg, Maeterlinck, Tchekov, Pirandello e Fernando Pessoa sem se ver apoucada.
 Esta farsa apresenta-se em tons contrastantes de grande intensidade e distorção. 
 Ligado ao expressionismo e pela expectativa inquietante e emocional com o teatro simbólico- até porque as personagens - apesar de alguns traços de realismo verosimilhante- são símbolos da inconsciência alienada e vulgar de viver-  que têm relutância , mesmo perante a morte, em encarar a verdade. E toda peça se processa em contrastes. 
 Centralmente entre a vida inútil, sem consciência cívica nem humana do governador civil  e a consciência do Doido sobre a condição humano. 
 Existente um contraste entre a mentira das máscaras sociais no cumprimento do dever, no amor e no dia a dia- e a verdade lúcida do Doido. 
Imagem relacionada Contraste ainda entre o discurso  titubeante, realista, racional do governador civil e o caudal lírico do Doido na primeira parte até ao clímax e depois na segunda entre a desagregação caótico da mascara do governador civil e a inexorabilidade do destino, cortante, assumida pelo Doido.





 Estrutura interna:
- A exposição da peça começa quando o Governador Civil está sentado á secretária, e diz para Nunes que não quer qualquer tipo de visita e declara que não está disposto a atender ninguém, até que aparece o Sr. Milhões. ("homem importante e severo, de grandes suiças cuidadas e e lunetas de aro de oiro.") .
- Todo o conflito na peça de teatro tem origem quando o Sr. Milhões apresenta para o Governador Civil um aparente negócio ou projeto importante, até que o Governador Civil dá um pontapé na caixa e o Sr. Milhões refere que dentro da caixa está um negócio muito grave, foi então que revelou que estava uma bomba dentro da caixa. (" O maior crime de todas as épocas, a suprema tragédia de todos os tempos! Vamos estoirar dentro de vinte minutos." ... " O que o senhor vê aqui nesta caixa é o mais formidável de todos os explosivos SO3-HO4, cem vezes mais poderoso que a dinamite, o algodão-pólvora, e o fulminato de mercúrio. Basta carregar nesta campainha para irmos todos pelos ares, eu , o senhor, o prédio, o bairro, a capital.SO3-HO4." ... " O peróxido de azote".) .
 Assim que o Governador se apercebe do que está no interior da caixa entra em pânico, o senhor Governador começa por chamar Nunes para lhe dar auxilio, para lhe salvar, mas Nunes acaba por não aparecer. No entanto, o Governador começa por falar com o Sr. Milhões de maneira que se pudesse safar desta situação ao tentar demonstrar as consequências que o explosivo poderia ter, mas o Sr. Milhões acaba por não mudar de ideias.
 - O desenlace da peça ocorre quando se ouve um barulho no exterior. O Sr. Milhões faz retinir a campainha e o Governador Civil cai na cadeira com gestos desordenados, depois entram dois enfermeiro de casaco branco e resguardo e um deles acabo por destapar a caixa e, por fim, descobrem que era apenas algodão em rama.


 Evolução da relação entre as personagens:
- Durante toda a peça de teatro, especialmente no conflito, podemos nitidamente reparar que existe uma evolução da relação entre as personagens. O Governador Civil que supostamente tinha Nunes sempre a seu dispor, acabou por não ter o seu auxilio quando necessitara, no mundo em que soube do que estava no interior da caixa. Ao longo do diálogo que o Governador tem com o Sr. Milhões, o Governador telefona para a sua mulher, D. Ana de Baltazar Moscovo, para lhe fazer as suas últimas disposições. Quando D. Ana de Baltazar Moscovo entrara no escritório e soubera do que estava no interior da caixa, quis de imediato sair do prédio, fugir sem se preocupar com Governador Civil. Podemos reparar que após todo este acontecimento o Governador toma consciência que Ana não gostava tanto dele como ele pensava, pois Ana dissera anteriormente ao Governador que quando ele morresse, ela morreria ao seu lado. Ana utiliza uma desculpa que não é segundo a sua religião morrer queimada e sai do prédio. (" Adeus! Morrer queimada, não! (À porta, como quem lhe atira pazadas de terra). Morre em paz! Descansa em paz! Jaz em paz!
 O Sr. Milhões tenta levar o Governador á razão, dizendo que a sua mulher o engana. Ao longo da peça, o Governador fica cada vez mais impaciente e á medida que o tempo vai passando deixa de tentar fazer com que o Sr. Milhões mude de ideias, mas começa a ficar furioso e a tentar enganado para puder fugir. ("Maldito sejas tu por toda a eternidade. Tenho medo! tenho medo! Espere! é um pecado morrer com desespero. Dói-me a barriga... Peço licença para ir lá fora fazer o que tenho a fazer.").
 E por fim, quando realmente descobre que tudo o que o Sr. Milhões dizia era uma farsa, acaba por insultá-lo.

 Presença do cómico de situação:
- A peça de teatro "O Doido e a Morte" tem presente diversas situações cómicas que dão vida a cada acontecimento. No inicio da peça podemos observar logo a mudança cómica de atitude do Governador Civil, que começa por avisar a Nunes que nao queria receber ninguém e, no entanto, assim que o Sr. Milhões entra no escritório do Governador Civil muda logo de ideias e de humor só pelo facto do Sr. Milhões ser um homem rico e de grande importância. (" O Sr. Milhões? que entre... que vida esta! que país este! Exatamente no momento psicológico, no momento e, que retomava. Nunes! Ai do Lusiada coitado... Isto não é um país, é uma selva onde os homens de génio têm de ser ao mesmo tempo governadores civis. O Sr. Milhões. Diz-lhe que entre, diz-lhe depressa que entre. É o próprio ministro que recomenda o homem mais rico de Portugal."). Logo em seguida, quando o Sr. Milhões coloca a caixa no chão, o Governador dá um pontapé e o Sr. Milhões repreende-o de imediato! O Governador nao fazia ideia do que poderia estar dentro da caixa!
 Quando o Governador sabe que o explosivo está dentro da caixa, começa por chamar Nunes bastante aflito, o que acaba por ser um momento cómico. (" Temos muito tempo. Ò Nunes!").
 Quando Ana Baltazar Moscovo sabe que um explosivo poderoso está no escritório, fica constantemente a perguntar quanto tempo demora até o explosivo arrebentar, sem querer dar muita importância ao facto do marido estar perante aquela situação! Entretanto, a situação mais cómica é sem dúvida no final, quando o Governador descobre que afinal não estava um explosivo na caixa, mas apena algodão em rama. O Governador Civil acaba por insultar o Sr. Milhões insultando-lhe e utilizando uma expressão inapropriada. (" Ai o grande filho da ****").

Biografia 


Raul Brandão foi então prosador, ficcionista, dramaturgo e pintor, vindo da Foz do Douro, no Porto,nasceu a 12  de março de 1867, e viveu parte da sua vida em Lisboa, onde acabou por falecer a 5 de Dezembro de 1930. 

Foi um descendente de homens do mar, a sua infância foi marcada pela paisagem física e humana da zona piscatória da Foz do Douro. No Porto, conviveu com os jovens escritores António de Oliveira, António Nobre e Justino de Montalvão com quem, em 1892, subscreveu o manifesto Nefelibatas . Iniciou ainda sua carreira literária em 1890 com Impressões e Paisagens .


Frequentou o curso superior de Letras, mas ingressou na carreira militar.Colocado em Guimarães, retirou-se para a Casa do Alto, uma quinta próxima de Guimarães, onde o local de produção da maior parte da sua obra literária, alternando o isolamento nortenho com estadias em Lisboa, onde começou uma atividade jornalística, tendo colaborado em publicações como o Imparcial, Correio da Noite, Correio da Manhã e O Dia . Nestes últimos, éconstante o seu debruçar sobre o terrível drama da condição humana,perpassado pelo sofrimento, a angústia, o mistério e a morte. São também constantes as referências aos ofendidos e humilhados, face visível da expressão humana que é um dos motivos mais regulares na sua obra. 

Ao longo de uma obra multifacetada, Raul Brandão viria a ser um dos escritores que, a par de Fernando Pessoa, mais influíram na evolução da literatura portuguesa do século XX, sendo eleito figura tutelar não apenas de gerações suas contemporâneas, como o grupo reunido em torno de Seara Nova , ou o chamado grupo da Biblioteca Nacional (Jaime Cortesão, RaulProença, Aquilino Ribeiro, Câmara Reis), como de gerações posteriores para as quais a redescoberta da obra de Raul Brandão serviu de esteiro para reformular de estruturas novelísticas tradicionais. 

Esse processo de rutura que se enceta com A Farsa , romance que  a voz à personagem Candidinha, um ser marginalizado pela sociedade em quem, sob farsa da submissão, se condensa um discurso de ódio, de inveja e de maldade,culminaria em obras-primas como Os Pobres e Húmus . Dificilmente qualificáveis como romances, estas duas obras, aproximando-se de caracteres da escrita poética e filosófica, colocam em causa os modos de representação do real para se afirmar como uma meditação sobre a metafísica da dor e sobreo absurdo da condição humana, dentro da qual as coordenadas de tempo,espaço, intriga ou personagens, apenas esboçadas, servem de cenário universal e abstrato para o drama secular da luta do homem entre o sonho e desgraça. 

Conjugando a influência de Dostoievski, com o simbolismo e com um sentidode modernismo, registado em processos como a fragmentação do eu [nas duasobras acima enunciadas, o eu tenta opor-se à voz de um alter-ego, o filósofo Gabiru, cujo discurso, também na primeira pessoa, é esboçado nos "papéis doGabiru" Húmus ou na "filosofia do Gabiru" Os Pobres )], Raul Brandão inaugura uma forma de escrita romanesca que, rompendo com a linearidade do tempo da sintaxe narrativa, se desenvolve de forma circular em torno de símbolos palavras-chave como árvore, sonho, dor, espanto, morte. 

Entre a redação e a publicação de Os Pobres (1906) e Húmus (1917), Raul Brandão publicou os romances históricos El-Rei Junot (1912), A Conspiração de1817 (1914, reeditado, em 1917, com o título: 1817 - A Conspiração de Gomes Freire e O Cerco do Porto, pelo coronel Owen (1915), obras que, tendo por objeto as convulsões do início do século XIX, se até certo ponto divergem daobra ficcional do autor pela exigência de rigor no tratamento da matéria histórica, revelam também uma tendência para envolver os conteúdos de um sentido universalizante anunciado desde a introdução a El-Rei Junot, quando afirma, numa reflexão metafísica que poderia ser colocada na boca do Gabiru,que "A história é dor, a verdadeira história é a dos gritos. [...] O Homem tem atrás de si uma infindável cadeia de mortos a impeli-lo, e todos os gritos que se soltaram no mundo desde tempos imemoriais se lhe repercutem na alma. - É essa a história: o que sofreste, o que sonhaste  milhares de anos, tateou,veio, confundido no mistério, explodir nesta boca amarga, neste gesto decólera...". 


Raul Brandão é ainda autor de várias peças de teatro, onde temática ouformalmente subverte as expectativas da receção dramática do início doséculo XIX, em peças como O Gebo e a Sombra , O Rei Imaginário, O Doido e Morte, Eu Sou um Homem de Bem ou O Avejão .
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