quarta-feira, 10 de maio de 2017

Aparição

Caracterização das personagens:

Alberto Soares

Narrador distanciado dos acontecimentos da diegese


  • Um ser à descoberta da face última das coisas e da sua própria verdade perfeita, sentindo-se, no entanto, impotente perante a inacessibilidade do que busca;
  • Um ser profundamente angustiado, agitando-se entre a ideia de Deus em que não acredita e a corrente filosófica do Existencialismo que advoga;
  • Não concebe uma pessoa dissociada do seu próprio nome;
  • Um ser, desde a infância, interessado pelas leituras, pela invenção do indizível e pelos versos que a cantavam, e pela descoberta de si próprio; é natural que um perfil assim provocasse um certo isolamento propício à reflexão, o que justificaria o facto de seu irmão Evaristo o tratar por «monge»;
  • Um ser para quem a arte (no seu caso, poética) não era uma manifestação fútil e fortuita;
  • Uma personagem com um único e verdadeiro problema a resolver: a morte;
  • Um escritor para quem a escrita é uma espécie de exorcismo;
  • No final, um ser aparentemente apaziguado e rendido à evidência da sua condição; no entanto, salvaguardando diferente interpretação, sem ter resolvido, em definitivo, a sua eterna angústia, por isso se refugiando na «memória de uma inocência de outrora e para sempre reinventada em música» (Cristina), e na presença da mulher que o procura e lhe toma as mãos em profunda comunhão, comunhão que sempre procurou, conforme se pode constatar através da nota 26, e que fora anunciada no início da obra, no final do capítulo que funciona como uma espécie de Preâmbulo.

Personagem da diegese

  • Uma pessoa com um problema «metafísico» a resolver
  • Um ser angustiado pela redescoberta da morte;
  • Uma pessoa a quem a atitude existencialista não proporciona a necessária paz de espírito;
  • Professor com «projetos tão ingénuos», mas com a preocupação de inovação a nível didático;
  • Autor de dois livros de poemas sobre a essência de Deus;
  • Alguém que se emociona com a música, que entende como um dom de revelação, sobretudo a que era executada por Cristina;
  • Um ser desiludido que não acredita em Deus (Deus apenas residirá no nosso imaginário);
  • Uma personagem persuadida de que tinha uma missão a executar, uma mensagem a transmitir], como se fosse o novo Messias destruidor de mitos inventados (na perspetiva de Ana, não passava de um pantomineiro, de um impostor, de um papagaio orgulhoso e ridículo), evidenciando, no entanto, uma necessidade de comunhão em relação ao seu problema;
  • O professor conta aos alunos a experiência da aparição de si a si próprio;
  • Um humanista que não se interessa apenas pelas necessidades materiais do homem;
  • Uma pessoa para quem a vida é uma selva de caminhos onde é fácil perdermo-nos, provavelmente a razão por que continua a procurar a sua evidência;
  • Materialista e humanista;
  • Um ser angustiado ainda à procura de algo que lhe confira tranquilidade, incessantemente à procura da aparição: afinal, tinha uma verdade ou apenas uma dúvida?; a dúvida parece permanecer, o problema parece insolúvel.
  • Obsessivo, não ama ninguém, apenas a sua violência;
  • Um ser que se sentia excluído da verdade e da harmonia natural, só queria soluções para toda a idade da vida, uma certeza assumida, assimilada, para a ameaça da morte;
  • Alguém que entende que o homem deve construir o seu reino, onde a morte não deve ter razão contra a vida nem os deuses voltar a tê-la contra os homens; no entanto, não sabe como consegui-lo (o problema subsiste sem solução), elegendo como uma espécie de redenção a música de Cristina.

Sofia

Retrato Físico

  • Corpo esguio, intenso e maleável, de seios agressivos;
  • Olhos vivos;
  • De uma beleza demoníaca, como de perdição ou de pecado.

Retrato Psicológico

  • Faz versos;
  • Com olhar ácido de pecado, olhar ilícito e inocente;
  • Com um canto ardente, iluminado de loucura;
  • Com o mistério da vitória  e do desastre, da violência do sangue (indício proléptico e premonitório);
  • Com uma forma estranha de olhar o professor (Dr. Alberto Soares), mas com olhos lúcidos;
  • Irreverente e insubmissa;
  • Sempre uma «criança difícil», com tendência sadomasoquista e propensão para o suicídio, suicídio tentado mesmo em adulta, depois de ter conhecido o Dr. Alberto Soares;
  • Preferia o absoluto da destruição;
  • Conhecedora já da grande notícia de que o Dr. Alberto Soares se dizia portador, numa atitude epicurista, tinha por filosofia de vida o carpe diem (goza o dia de hoje: “a vida é curta, por isso devemos aproveitá-la enquanto pudermos”,Horácio, Odes, 1, 11, 8);
  • Unida secretamente a Carolino (Bexiguinha);
  • Gosta de dominar uma inocência;
  • Autora da carta anónima dirigida ao reitor, evidenciando que não olha a meios para atingir os fins
.
Ana

Retrato Físico

  • Magra, de cabelos longos e olhar vivo (grandes olhos de fogo) , um dente saído conferia alguma irregularidade ao lábio superior, conferindo-lhe uma graça infantil;
  • Não podia ter filhos.


Retrato Psicológico


Antes da morte de Cristina
  • Com a violência de um convertido em crise;
  • Leitora atenta dos dois livros de Alberto Soares, confronta-o a partir do conteúdo dos mesmos;
  • Com os seus problemas com os deuses definitivamente resolvidos, confronta-se, uma vez mais, com Alberto Soares, dispensando a mensagem messiânica de que se julga portador;
  • Com um olhar enigmático, esfíngico;
  • Com uma calma habitual, provavelmente aparente, pois seria uma calma com uma tensão pronta a explodir;
  • Além de provocadora, tenta humilhar Alberto Soares;
  • Com a força da sua naturalidade, restabelece tudo em verdade corrente;
  • Simuladora de uma cumplicidade, em ralação a Alberto Soares, sem razão.
  
Depois da morte de Cristina
  • Encontra a pacificação do seu espírito, passando a acreditar na existência de uma grandeza face à pequenez do homem, sem, contudo, saber que nome lhe atribuir;
  • Coma a adoção dos filhos do Bailote, alcança a felicidade, facto que é interpretado por Sofia como uma cobardia;
  • Crente, embora ainda não apóstola, parece ter encontrado, definitivamente, a paz que procurava.

Bexiguinha (Carolino, primo de Chico)

  • Apresentação sumária da personagem e da sua alcunha;
  • Atento, desde o início, à mensagem do professor;
  • Também já tinha pensado no problema que transportava o professor, manifestando, no entanto, uma inquietante separação de si, ou para um encontro lúcido consigo ou para uma união de loucura;
  • Já fizera uma outra experiência: mastigar as palavras;
  • Pensa ter compreendido tudo o que o professor queria dizer;
  • Afinal, o Bexiguinha não tinha ideias, era louco;
  • Na sua loucura, conclui que o homem é deus porque pode matar, pode destruir;
  • A sua postura deixa transparecer uma cumplicidade com Sofia;
  • Existia, de facto uma união secreta entre Sofia e Carolino;
  • Revela-se sinistro e hostil em relação ao professor;
  • Tenta matar Alberto Soares, o «seu» rival;
  • Assassina Sofia.

Alberto Soares
 «Tento, há quantos anos, vencer a dureza dos dias, das ideias solidificadas, a espessura dos hábitos, que me constrange e tranquiliza. Tento descobrir a face última das coisas e ler aí a minha verdade perfeita.», p. 9;

 «Mas tudo esquece tão cedo, tudo é tão cedo inacessível.», p. 9;

 «Eu te odeio, meu irmão das palavras que já sabes um vocábulo para este alarme de vísceras e dormes depois tranquilo e me apontas a cartilha onde tudo já vinha escrito...», p. 10;
«E eu te digo que nada estava ainda escrito, porque é novo e fugaz e invenção de cada hora o que nos vibra nos ossos e nos escorre de suor quando se ergue à nossa face.», p. 10;
«Quanta coisa aprendi e sei e está aí à minha disposição quando dela preciso. Mas esta simples verdade de que estou vivo, me habito em evidência, me sinto como um absoluto divino, esta certeza fulgurante de que ilumino o mundo, de que há uma força que me vem de dentro, me implanta na vida necessariamente, esta totalização de mim a mim próprio que me não deixa ver os meus olhos, pensar o meu pensamento, porque ela é esses meus olhos e esse meu pensamento, esta verdade que me queima quando vejo o absurdo da morte...», p. 10;
«Conto tudo, como disse, à distância de alguns anos. [...] Mas os elos de ligação entre os factos que narro é como se se diluíssem num fumo de neblina e ficassem só audíveis, como gritos, que todavia se respondem na unidade de que sou, os ecos angustiantes desses factos em si - padrões de uma viagem que já mal sei.», p. 24;

 «Não sei que pacto se estabelece entre a pessoa quer somos e o nome que nos deram: o nome, como o corpo, é nós também.», p. 20;

  «Sim. Havia o meu interesse pelas leituras, a invenção do indizível e o meu verso clandestino que a cantava. [...] Havia enfim, desde a infância, essa velha pergunta sobre a descoberta de nós próprios e que eu também fizera um dia a meu pai:
 - Quem sou eu?
[...]
- Bom - disse meu pai, um pouco perturbado: - tu és meu filho, um homem, um ser vivo que pensa, que vive e que há de morrer como todo o ser vivo.
- Mas eu, eu o que é que sou?», p. 25;

 « - O monge? Onde é que está o monge?
O monge sou eu.», pp. 16/17;

 «Mas a arte não era para mim um mundo da letra impressa, uma estúpida invenção de passatempo ou de vaidade: era uma comunhão com a evidência, uma reencarnação na verdade de origens [...]», pp. 36/37;

 «Portanto, eu tinha um problema: justificar a vida em face da inverosimilhança da morte. E nunca mais até hoje eu soube inventar outro.», p. 49;
«E todavia eu sei que «isto» nasceu para o silêncio sem fim...», p. 50;

 «Não escrevo para ninguém, talvez, talvez: e escreverei sequer para mim? O que me arrasta ao longo destas noites, que, tal como esse outrora de que falo, se aquietam já em deserto, o que me excita a escrever é o desejo de perseguir o alarme que me violentou e ver-me através dele e vê-lo de novo em mim, revelá-lo na própria posse , que é recuperá-lo pela evidência da arte. Escrevo para ser, escrevo para segurar nas minhas mãos inábeis o que fulgurou e morreu.», p. 193;

 «Sento-me aqui nesta sala vazia e relembro. [...] É bom estar aqui, neste abandono, todo aberto a estas vozes de indício, a este trémulo aviso de uma verdade primordial. Instante perfeito da totalidade presente, aureolando tudo o que me é degradação... Dou a face inteira à inundação da lua, que me escorre por este corpo perecível, o trespassa do seu fluido de eternidade, o transmigra ao país da legenda. Um grande halo de grandes olhos abertos suspende-se raiado à anunciação da evidência. Sei e não temo [...] Sei, não talvez como quem conquistou mas como quem se despoja: a minha verdade é o que me sobeja de tudo. [...] O meu futuro é este instante desértico e apaziguado. [...] a vida do homem é cada instante [...] O tempo não passa por mim: é de mim que ele parte, sou eu sendo, vibrando. [...] - neste instante fugidio e apaziguado eu me esqueço à quietude desta lua irreal [...]», pp. 272/273;

 «Quantos anos ainda me espera? Que caminhos desertos ou de estalagens à espera? [...] Como imaginar o futuro? [...] O que sonho mal é um sonho; porque o espero violentamente, o desejo na experiência do meu corpo, das minhas vísceras - como deve ser realizável o pão à fome de quem nunca o teve. Mas dos desvarios que o meu aviso suscita como um erro de cálculo ou de manobra, da secura mecânica das horas que o esqueceram na execução dos gestos, do terror dos longos dias até ao repouso final a que aspiro, da própria angústia que me torce à evidência da minha condição [...]», pp. 272/273;

 « - neste instante fugidio e apaziguado eu me esqueço à quietude desta lua irreal sobre a terra realizada em dádiva e fertilidade, à memória de uma inocência de outrora e para sempre reinventada em música  a uma hora gravada de cansaço entre uns dedos indefesos e uns cabelos louros...», p. 273;

 «...eu me esqueço ainda, ao anúncio de alguém numa porta que se abre, e que me procura e me toma as mãos e as molda, à luz da lua, na flor breve e miraculosa de uma profunda comunhão...», p. 273;

 
«Tomo as suas mãos nas minhas e no deslumbramento da noite abre-se, angustiada, a flor da comunhão...», p. 12;

 
«Amigos de Coimbra chamavam-me velho, cobarde, decadente, só porque eu tinha agora um problema de vida-morte, um problema «metafísico» a resolver.», p. 105; «Mas a angústia que me habita, a violenta redescoberta da morte, que eu acabo de fazer [...] Venho de luto, o meu pai morreu.», p. 14;
«Então bruscamente ataca-me todo o corpo, as vísceras, a garganta, o absurdo negro, o absurdo córneo, a estúpida inverosimilhança da morte. Como é possível? Onde a realidade profunda da tua pessoa, meu velho? Onde, não os teus olhos, mas o teu olhar?, não a tua boca, mas o espírito que a vivia?», p. 45;
«Com efeito, nas súbitas arcadas que levam à Praça, abre-se-me um obscuro labirinto onde julgo repercutirem-se, como ecos de uma gruta, os ecos do tempo e da morte.», p. 14;
«Então bruscamente ataca-me todo o corpo, as vísceras, a garganta, o absurdo negro, o absurdo córneo, a estúpida inverosimilhança da morte. Como é possível? Onde a realidade profunda da tua pessoa, meu velho? Onde, não os teus olhos, mas o teu olhar?, não a tua boca, mas o espírito que a vivia?», p. 45;
« Que pretendia eu? [...] Não o dissera já a Ana? Adequar a vida (que é um pleno de ser, um absoluto, uma positividade necessária) com a morte (que é uma nulidade integral, uma pura ausência, um nada-nada).», p.109;
«Interrogo-me, porque a morte é um muro sem portas.», p. 110;

 «E todavia, pesa-me como uma pata de violência a realidade da pessoa que somos. Há muita coisa a arrumar, a harmonizar, muita coisa ainda a morrer. Mas por enquanto está viva. Por enquanto sinto a evidência de que sou eu que me habito, de que vivo, de que sou uma entidade, uma presença total, uma necessidade do que existe, porque só há eu a existir, porque eu estou aqui, arre!, estou aqui, EU, este vulcão sem começo nem fim, só atividade, só estar sendo, EU, esta obscura e incandescente e fascinante e terrível presença que está atrás de tudo o que digo e faço e vejo - e onde se perde e esquece. EU! Ora este «eu» é para morrer. Morre como a intimidade de uma casa derrubada. Sei-o com a certeza do meu equilíbrio interior. Mas como é possível? Agora eu sou essa intimidade, agora eu sou o seu espírito, a sua evidência.», p. 47;
 «Entrei, cumprimentei, disse o meu nome:
 - Alberto Soares.
 - Doutor Alberto Soares. O novo professor do primeiro grupo. Professor efetivo. Em que Liceu esteve este ano? Mas sente-se. Tem aí essa cadeira.
Sentei-me. Tinha feito apenas o serviço de exames desse ano. Em Coimbra.
 - É portanto o primeiro liceu em que ensino - acrescentei.
De que nadas a vida se sustenta! [...] Porque eu tinha projetos tão ingénuos. [...] pus-me a falar de coisas extraordinárias a realizar, excitado no meu entusiasmo de principiante. Exercícios, redações, técnicas modernas de pedagogia, leituras de modernos escritores, cultura, cultura. Também disse, é verdade, como era necessário aprender a distinguir um fado de uma sinfonia, um Picasso de um calendário. Bons deuses!», pp. 27, 28; p. 25;

 
«Eu inventava assim técnicas novas ou julgava que inventava.», p. 115;

 
«- Li dois livros seus - disse-me ela [Ana]. - Publicou mais algum?
Não, não publicara, disse eu, centrado na atenção de todos.- Que se passou em si do primeiro para o segundo? Dir-se-ia que o seu deus ressuscitou também no terceiro dia.», p. 37;
« - Há uns versos no seu livro que me intrigam. Dizem assim, mais ou menos:
Do sangue nascem os deuses
Que as religiões assassinam.
Ao sangue os deuses regressam
E só aí são eternos.», p. 38;

 
«E então eu vi, eu vi abrir-se à nossa frente o dom da revelação. Que eram, pois, todas as nossas conversas, a nossa alegria de taças e cigarros, diante daquela evidência? Tudo o que era verdadeiro e inextinguível, tudo quanto se realizava em grandeza e plenitude, tudo quanto era pureza e interrogação, perfeito e sem excesso, começava e acabava ali, entre as mãos indefesas de uma criança. Mas tão forte era o peso disso tudo, tão necessário que nada disso se perdesse, que as mãos de Cristina se estorciam na distância das teclas, as pernas na distância dos pedais e toda a sua face gentil, até agora impessoal e só de infância, se gravava de arrepio à passagem do mistério. Toca, Cristina. Eu ouço. Bach, Beethoven, Mozart, Chopin. Estou de lado, ao pé de ti, sigo-te no rosto a minha própria emoção. Apertas ligeira a boca, pões uma rugazinha na testa, estremeces brevemente a cabeleira loura com o teu laço vermelho. E de ver assim presente a uma inocência o mundo do prodígio e da grandeza, de ver que uma criança era bastante para erguer o mundo nas mãos e que alguma coisa, no entanto, a transcendia, abusava dela como de uma vítima, angustiava-me quase até às lágrimas.», pp. 40/41;

 
«Mas o jantar acabava e fomos tomar café para outra sala. Madame teve tempo ainda de me perguntar:
- Desculpe: mas não é então crente?
- Decerto que não, minha senhora.
- Ah, estes jovens de hoje, estes terríveis jovens...»
« A verdade aparece e desaparece. Deus, a imortalidade e uma ideologia política e a sedução de uma mulher - onde começam?, onde findam? Sou um indizível equilíbrio interior. Vivi, agi, toquei com as mãos tanta ilusão consistente. Depois a ilusão desfez-se. Ficou, porém, o rasto do que toquei, o gesto das minhas mãos - essa última união com o que quis, acreditei. Então eu descobri que as mãos estavam impuras. Lavar-me, renascer. Deus está morto porque sim. [...] Foi porque Deus se me gastou. Sei só que não está certo que ele viva. Sei que ele é absurdo porque o é. Sei que esle está morto, porque não cabe na harmonia do que sou. Não cabe.», pp. 46/47;
« «Afinal, Deus não existe.» Não existia mesmo. Era evidente, natural, claro, como era claro não haver Pai Natal.», p. 98;
«Deus morreu, Deus não é a minha meta, é o meu ponto de partida.», p 102;

 
«Tinha uma missão a executar, uma extraordinária notícia a transmitir. Precisava urgentemente de fazer a conferência, de revolucionar o mundo. Porque o mundo aparecia-me sob a forma de uma absurda estupidez. Era necessário que todos os homens vivessem em estado de lucidez, se libertassem das pedras, chegassem ao milagre de ver. Era absolutamente necessário que a vida se iluminasse na evidência da morte. Viriam a chamar-me «mórbido», «doentio». Porquê? Mais real do que o nascer era o morrer. Porque quem nasce é ainda nada. Mas quem morre é o universo, é a pura necessidade de ser. Um homem só é perfeito, só se realiza até aos seus limites, depois de a morte o não poder surpreender. Não porque a tivesse decorado como um gato-pingado, não porque a tivesse  esquecido, mas por tê-la incorporado na plenitude da vida. Sabia bem quanto era difícil já não digo esta aceitação esclarecida mas até o ver o problema, sofrer o impacto da sua fulgurante aparição. Eu próprio quantas vezes o esqueço! [...]
Mas agora eu sei, eu vejo. Procuro por isso o Chico na sua repartição.», pp. 63/64;

 
«Ah, como te torces dentro de ti [Ana]! Também tu então nada sabias de ti! Também eu te trouxe a notícia das trevas onde hás de acender a nova luz. Céus! Mas então eu fui necessário! Todo um mundo duvidoso esperava o novo Messias! Sofre, amiga! Trago comigo a destruição dos mitos que inventaste...», p. 95;

 
 « - Porque é você tão pantomineiro?
[...]
- Porque me chama «pantomineiro»?
- Tudo comédia, tudo comédia. Deus vive no seu sangue como um vício. Deixar de beber, de fumar. Mas o seu mundo é o do ópio e do álcool.», pp. 99/100;

 
« - Distrair... Que medo você tem de se distrair. Mas quem quer não é. Não é santo quem quer. Nunca pensou que era um impostor?
- Até os grandes o hão de ter pensado, Ana. Mas só há impostura quando há público. E o que eu procuro é ser público de mim próprio.», p. 184;

 
« - Há de estremecer sempre. Até reconhecer que lhe não pertence. Não a inventou você. Deram-lha, veio-lhe de outrem. E você esquece que está a repeti-la como se lha não tivessem dado. Papagaios orgulhosos e ridículos, empoleirados na sua pobre suficiência...», p. 228;

 
«Eu estava numa situação de inferioridade e o que desejava não era uma tolerância mas uma comunhão.», p. 65;

 
« - Há uma outra experiência - disse eu. - Uma vez, quando era miúdo... [...]
Mas no outro dia, assim que me levantei, coloquei-me no sítio donde me vira ao espelho e olhei. Diante de mim estava uma pessoa que me fitava com uma inteira individualidade que vivesse em mim e eu ignorava. Aproximei-me, fascinado, olhei de perto. E vi, vi os olhos, a face desse alguém que me habitava, que me era e eu jamais imaginara. Pela primeira vez eu tinha o alarme dessa viva realidade que era eu, desse ser vivo que até então vivera comigo na absoluta indiferença de apenas ser e em que agora descobria qualquer coisa mais, que me excedia e me metia medo. Quantas vezes mais tarde eu repetiria a experiência no desejo de fixar essa aparição fulminante de mim a mim próprio, essa entidade misteriosa que eu era e agora absolutamente se me anunciava.», pp. 68/70;

 
«Chico endireitou-se, fez peito. [...]
- A única verdade a conquistar é a de que todos os homens têm direito a comer.
- Quando é que afirmei que o homem deve passar fome? Mas, se em todas as épocas se tivesse só pensado na melhoria económica, hoje não seríamos homens: seríamos apenas máquinas. O meu humanismo não quer apenas um bocado de pão; quer uma consciência e uma plenitude.», p. 71;
«Fixar uma vida em torno de uma ideia, de um sentimento, como é difícil! [...] a vida imediata, quotidiana, é uma selva de caminhos, de veredas, de confusa vegetação. Tão fácil perdermo-nos! O mais grave, porém, é que na sua rede muitas vezes não sentimos que nos perdemos. Cada caminho impõe-se-nos na sua presença imediata. Um caminho é «o» caminho em cada instante que passa.», p.91;

 
«Não, não quero suicidar-me. Quero achar a evidência que procuro, estabelecer nela a minha vida em plenitude.», p. 102;

 
« - Sou materialista! - disse eu.
[...]
- Mas o meu materialismo não é o de um pedreiro.
[...]
O sonho, o alarme, o mistério, a presença de nós a nós próprios, a interrogação, o mundo submerso da nossa intimidade - tudo era vida real, da matéria de que eram feitas as pedras e os cardos. Sim, os deuses tinham habitado tudo isso. Mas os deuses estavam mortos. Mortos sem discussão. Mortos-mortos. [...]
- É exatamente porque sou materialista que esse mundo me intriga. Se tivesse deuses para lhes recambiar estes seus bens não me interrogava duas vezes. Interrogo-me, porque a morte é um muro sem portas.»;
« - Essa é a base última de um verdadeiro humanismo: instalar o homem mesmo nos aposentos divinos.», pp. 109/110;

 « - Terás tu... Terás tu achado o que procuro? ...essa superação de todas as angústias, de todas as dúvidas? Terás tu visto o absurdo e o milagre, e ficado tranquilo?
- Não sei o que queres dizer. Mas tenho a certeza de que não achei o que procuras. Porque, se tu procuras, só tu podes achar.», p 146;

 «Fecho o álbum, acendo um cigarro. Para lá da janela atinjo a linha azul do horizonte que se desvanece na tarde. Penso, penso. Não, não penso: procuro. Outra vez, outra vez. Não, não quero «saber», sei já há tanto tempo... Mas nenhum saber conserva a força que estala no que é aparição. Porque o escrevo de novo? A verdade é que nada mais me importa. E, todavia, um estranho absurdo me ameaça: quero saber, ter, e uma aparição não se tem, porque não seria aparecer, seria estar, seria petrificar-se. Queria que a evidência me ficasse fulminante, aguda, com a sua sufocação, e aí, na angústia, eu criasse a minha vida, a reformasse. [...] Quem é fiel a uma certeza e a pode ver quando lhe apetece? [...] Em que iluminação eu acredito quando falo em nome dela e a imponho a Ana, aos outros? Falo de cor - a iluminação é então a minha noite de secura.», pp. 192/193;

 «Não tinha medo e, todavia... Tinha eu afinal uma verdade e não apenas uma dúvida?», p. 231;

 «Que esperas tu da vida? Vê como os teus sonhos se resolvem nos outros em... Mas são atos definitivos, não se iludem, não se iludem. Duvidar é cómodo, interrogar-se é cómodo.» «Sei o que quero, sei o que sonho.» «Que fazes para o atingir?» [...] «Que fazes para o atingir?» «Não sei, não sei. Reconheço-me na evidência última da minha condição - saber é já conquistar. Mil razões e factos me trabalham a saúde e um dia vejo-me doente. Mil remédios me trabalham a doença e um dia reconheço-me saudável.» «Toma o teu remédio, doente. Toma o teu remédio.» «Qual remédio? Não o sei. Como quem se despe de todos os artifícios, eis-me nu à minha frente. A vida é curta - tanto tempo só para isto, para me desnudar. Um dia virão os mensageiros da Grande Reconquista, agora é cedo, a vida é curta. Um dia virão os arautos do Grande Dia e lançarão aos ombros nus do homem a verdade da alegria. Ou a própria terra e o próprio sol inventarão à nudez o calor vindo do sangue.» [...]
«Que fazes para atingir o teu sonho?» «Não o sei. Um dia virão os núncios da Grande Reconquista. Quando for a hora para isso.» [...]
«Que ilusão! A busca indefinida é do destino do homem.» «Sim. Mas outra busca, depois desta. A minha procura é a primeira, a que está antes de todas, a que encontre para este corpo mortal, esta luz vivíssima e mortal, o seu lugar ignorado num universo que se cumpre, com ventos e águas e serras e desertos e planetas e Vénus e Marte e estrelas, Antares, Deneb, Altair - meu velho pai - e galáxias e milhões de anos-luz e o infinito que submerge e aturde.»; pp. 238/240;

 «Não amo ninguém, não amo ninguém: amo a minha violência.», p. 163;

 «Uma verdade natural, uma harmonia natural trespassava toda a terra, os campos, as árvores, Ana, as crianças. Mas eu estava de fora...», p. 253;

 «Sentia, sabia que era um logro decidir-se para a vida sem ter-se em conta a doença, a morte. Um homem não se limita a dois braços fortes erguidos. Um homem limita-se em toda a sua condição. Se as ideias de um doente são ideias doentes, porque serão decisivas as ideias com saúde, se a saúde é uma contingência, um estado passageiro? As ideias saudáveis também são débeis: elas pertencem ao acaso do vigor. Poder-se-ia pois responder a quem as expõe que a sua exatidão depende apenas de uma frescura ocasional do sangue: o seu rigor é contingente... Mas eu queria soluções para toda a idade da vida, eu queria uma certeza assumida, assimilada, para a ameaça da morte. Eu queria que a desgraça da nossa condição nos não trouxesse surpresas... [...]
- Portanto - declarei - a exatidão de uma ideia não é uma exatidão em si. Portanto, toda a razão é «irracional.» Sei-o há muito.», pp. 260/261;

 
«Mas o que sei é que o homem deve construir o seu reino, achar o seu lugar na verdade da vida, da terra, dos astros, o que sei é que a morte não deve ter razão contra a vida nem os deuses voltar a tê-la contra os homens, o que sei é que esta evidência inicial nos espera no fim de todas as conquistas para que o ciclo se feche -  o ciclo, a viagem mais perfeita.», pp. 269/270;

 «Não me pergunteis como consegui-lo, não me pergunteis. O que é evidente aparece, p. 270;

 «talvez a tua música, Cristina, ajude a mover as pedras; como certa lira de outrora... Eu a sonho, pelo menos, como o ar respirável de um dia, aberto às alturas de um triunfo apaziguado, como a alegria dominadora e sem tumulto de quem chega ao alto duma montanha...», p. 270;


Sofia

 «Sofia. À luz do meu inverno, eis que te lembro no teu corpo esguio...», p. 33;

 «Até que [...] apareceu Sofia. Tinha um vestido branco, colado como borracha, e um corpo intenso e maleável. Uma forte adstringência apertava-a contra si, endurecia-lhe o boleado das curvas como duas maxilas cerradas. A cinta fechada disparava-lhe os seios, uma luz inquieta iluminava-lhe os olhos.», pp. 35/36;

 «Por isso se vestia em perfeição, destra e aguda, disparada desde os saltos aos seios agressivos, aos olhos retos e lúcidos.», p. 54;
 
 «Os teus olhos vivos, Sofia...», p. 33;
 
 «Calou-se enfim. Uma beleza demoníaca, como de uma criança assassina, fulgurava-lhe nos olhos líquidos, na face branca, na boca ávida e sangrenta.», pp. 85/86;
 
 «Oh, Sofia é tão bela, Ana. Como evitá-lo sempre? Bela como a perdição, como todo o pecado.», p. 253;
 
 «A minha Sofia, que também faz versos...», p. 33; «Sofia. À luz do meu inverno, eis que te lembro no teu corpo esguio, no teu olhar ácido de pecado...», p. 33;

 «De novo se me erguia, fascinante, no seu corpo selado de luto, nas suas mãos agudas, de gestos oblíquos, no seu olhar ilícito e inocente.», p. 84;

 «E tu voltada para o céu, cantando, cantando:
Ai... Ai, ai, ai, ai!
Ouço nas vísceras o teu canto ardente, iluminado de loucura.», p. 33;
«Acontecia assim às vezes - Moura contava - que durante uma conversa (como quando o pai falava da morte de algum doente) ela sorria enlevada com o ar distante, separado, de uma louca.», p. 58;

 «Os teus olhos vivos, Sofia, a tua face tão jovem tinham o mistério da vitória e do desastre, da violência do sangue.», p. 33;
 
 « Mas tinha sobretudo uma maneira brusca e cravada de travar e de me ficar olhando, como se me procurasse em qualquer sítio de mim onde não houvesse lembrança do que estávamos dizendo.», p. 53;

 «Por isso se vestia em perfeição, destra e aguda, disparada desde os saltos aos seios agressivos, aos olhos retos e lúcidos.», p. 54;

 « - Porque há.de a vida ter razão sobre nós? Porque havemos de ser sempre nós a submeter-nos? Um curso e um marido e filhos...»;
«Faça um esforço, doutor, faça um esforço. Saia um momento das regras e exceções. Só assim talvez entenda.», pp. 54/55;

 «Porque tu foste sempre uma «criança difícil», Sofia. [...] De uma vez, contou Moura, Sofia foi repreendida pela mãe. [...] Madame sentiu-se vexada, trouxe a filha a um recanto disciplinar e explodiu. Sofia nada disse. Não se ria, não chorava. Estava apenas muito séria como se tivesse cumprido um dever. Mas nessa noite, ao deitar, desapareceu. [...] Tinha estado todo esse tempo empoleirada na chaminé de um forno abandonado, no pátio.»; p. 58;

 «De outra vez, e sem questão nenhuma, atou fortemente um nastro num braço, prendendo a circulação. Já tinha a mão roxa quando o pai descobriu. Sofia sentiu-se alegre por saber que estivera em risco de perder o braço todo. Mas aos doze anos saiu realmente de casa, a pé, com destino a Lisboa.», p. 58;

 «A certa altura houve quem preconizasse o recurso de um colégio. Meteram-na no colégio. Mas não houve outro remédio senão tirá-la de lá, porque duas vezes tentou suicidar-se.», p. 58;

 «E Alfredo riu com malícia: oh, aquela Sofiazinha, aquilo não era uma mulher, aquilo era um demónio. Então eu não sabia?
- Mas naturalmente não sei de nada.- Pois a Sofiazinha já deixou Lisboa. Você sabe lá, doutor. Calcule que tentou suicidar-se outra vez...», p. 246;

 «Em certo serão de inverno, Sofia, Ana quebrou-te, creio que por descuido, um braço a uma bonaca. Tu foste para o quarto, grave, sem uma lágrima. E de um a um quebraste todos os teus brinquedos, impedindo violentamente que te levassem os cacos: melhor que a náusea das compensações medianas, preferias o absoluto da destruição.», p. 59;

 «Sofia falava. Em momentos fulgurantes, pelo meio da noite, ela descobrira também a vertigem da vida, da sua pessoa, da gratuitidade desse absurdo milagre, da interrogação para o amanhã: «Eu já conhecia tudo.» », p. 84;

 «Que havia, pois, mais para a vida, para responder ao seu desafio de milagre e de vazio, do que vivê-la no imediato, na execução absoluta do seu apelo? Eliminar o desejo dos outros para exaltar o nosso. Queimar no dia-a-dia os restos de ontem. Ser só abertura para amanhã.», p. 85;

 «De queixo nos polegares, Sofia e Carolino espreitam a conversa de longe. Estais, pois, unidos secretamente. Como me sinto ridículo.», p. 165;

 «Dirá você: dominar uma inocência é próprio do homem. Pois é. Mas eu também gosto. Toda a mulher é um homem não realizado - não é o que vocês pensam? Aliás, dominar uma inocência é talvez uma fraqueza que quer imitar a força. Não é isso próprio da mulher?», p. 179;

 « - Quem é que me denunciou ao reitor?
- Mas fui, naturalmente.
- Com uma carta anónima?
- Tive de lhe fazer ver que outras pessoas da cidade já sabiam. Só assim dava resultado.», p. 180;

Ana

 «Conheci a mulher do Cerqueira, Ana, Ana. Tinha cabelos longos e lisos, face magra de energia e de ânsia, olhar vivo de estoque... O lábio superior abria-se com a irregularidade de um dente.», p. 35;

 «Ergueu para mim os seus grandes olhos de fogo, sorriu com o seu dente saído, que dava ao seu corpo vibrante uma graça infantil de imperfeição.», p. 93;

 «Mas Ana, infelizmente, não podia dar-lhe filhos: desarranjo no ventre ao primeiro parto falhado, uma operação eliminatória.», p. 181;
 
« Ana ficou a meu lado com a sua pergunta de há pouco. Havia nela a violência de um prosélito recente ou em crise. Era em crise, boa Ana, como em breve eu saberia. Sim, Ana. Essa tua inquietação, essa tua fúria silogística, o desejo encarniçado de demonstrares, deram-me cedo a certeza de que nada em ti estava seguro.», p. 37;

 «- Li dois livros seus - disse-me ela. - Publicou mais algum?
Não, não publicara, disse eu, centrado na atenção de todos. 
- Que se passou em si do primeiro para o segundo? Dir-se-ia que o seu deus ressuscitou também ao terceiro dia.
[...]
Há uns versos no seu livro que me intrigam. 




O Existencialismo surgiu com o dinamarquês Soren Kierkegaard (1813-1855); o alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) e o alemão Martin Heidegger (1889-1976). Mais tarde, outros aderiram ao movimento filosófico, como Camus, Sartre, Beauvoir, Foucault, entre muitos outros, está alicerçado no postulado principal de que a reflexão humana não deveria incidir sobre a essência, mas sobre a existência, o que pressupõe a aceitação da liberdade do homem em face a Deus. Portanto, “Aparição” revela as principais ideologias e a corrente filosófica que marcaram o século XX em uma intersecção: “o homem primeiramente existe, descobre-se, surge no mundo, e só depois se define”.
Para o filósofo francês Jean-Paul Sartre (1905-1980), o homem, tal como o concebe o existencialismo, se não é definível, é porque primeiramente não é nada, só depois existindo será alguma coisa e tal como a si próprio se fizer. Assim, “não há natureza humana, visto que não há um deus para o conceber”, diz Sartre. Para o existencialismo, a existência precede a essência, ou seja, o homem existe apenas e só depois pode saber quem é, o ato de existir o conduz à descoberta do ser que existe dentro dele. 
Algumas características do existencialismo: ausência do determinismo, o homem é livre e seu destino é construído por si mesmo no mundo, e independentemente de qualquer desígnio divino ou da natureza; o homem é responsável por tudo o que faz e essa responsabilidade estende-se para o outro uma vez que aquilo que fizer afeta diretamente todos que o rodeiam; a percepção é sempre subjetiva no sentido de que essa mesma percepção resulta da constatação da própria condição humana. A percepção objetiva da realidade não é possível, porque o homem se angustia e revela necessidades e comportamentos que o prendem a situação da natureza universal; a solidão marca a existência e a liberdade provoca a solidão: o homem é um ser só; o homem está condenado a inventar e a reinventar a si a ao outro, explicando-o em sua época e ocasião, dentro de uma determinada realidade. 
Logo, no existencialismo, o homem só e livre necessita urgentemente de encontrar razões para a vida e para a morte e, primordialmente, para o absurdo que esses dois representam diante do ser humano. E Alberto tenta buscar uma verdade colocando suas opiniões sobre tudo e perante todos, comunica-se ininterruptamente tentando encontrar algo em que possa alicerçar-se.